Rui Manuel Marinho Rodrigues Maia
Licenciado em História, Mestre em Património e Turismo Cultural pela UMinho – Investigador em Património Industrial
A história da Fábrica Metalúrgica Sarotos remete-nos para 1900, quando José Fernandes Cerqueira funda uma oficina de metalurgia na Rua D. Pedro V, no n.º 82, na freguesia de S. Victor (Braga).
Ao longo dos anos, alavancada pelo fundador, a firma emancipou-se no mercado, de tal modo que a marca “Sarotos” cimentou-se e ganhou o seu próprio espaço no mercado.
Entre 1908 e 1934, os filhos do fundador, Manuel Fernandes Cerqueira (Sarotos) – Bernardo Fernandes Cerqueira (Sarotos) e Manuel Fernandes Cerqueira (Sarotos), sucederam na direção da fábrica, passando a tutelar o seu destino.
Em 1943, os três descendentes tornam-se sócios da empresa, uma vez que demonstraram ser notáveis técnicos e dirigentes, dando origem à firma – Sarotos Metalúrgicos, Lda.
A fábrica destacou-se a nível nacional pela aposta em novos produtos, matérias-primas e processos de fabrico, transformando-se numa das mais proeminentes do setor em Portugal.
A fábrica, cujos horizontes nasceram na Rua D. Pedro V, passaram a abranger mercados além-fronteiras, tendo laborado para marcas prestigiadas como: CITROEN – BMW – UMM – JEEP – VW – mas, também, para clientes particulares, permitindo expandir as exportações, chegando às ilhas, às ex. colónias e ao Continente Americano.
Em 1959 é efetuado o primeiro pedido para expansão da área fabril, cuja frente confronta com a Rua Bernardo Sequeira, freguesia de S. Victor, não muito distante do seu local primitivo, cujo projeto é da autoria do arquiteto Álvaro de Carvalho.
Após a tramitação de todo o processo de licenciamento nos gabinetes da Câmara Municipal de Braga, em 1966 a empresa passa a laborar nesse novo local, dotado das condições necessárias para dar resposta às suas necessidades, com novas alas, como a secção de galvanização, escritórios, refeitório, armazéns, etc., tendo capacidade para cerca de duzentos operários.
A Sarotos – importante indústria vocacionada para a produção de acessórios da indústria automóvel – preconizava poder expandir-se ainda mais do que até então nesse mesmo local.
Nos anos 80 é executada uma cobertura na ala sul da empresa, pelo que a mesma manteve a sua configuração original, sem modificações de monta até a atualidade. Nos anos 90 a firma enfrenta sérias dificuldades, motivadas pela má gestão, pela conjuntura política e económica e, obviamente, a entrada de Portugal na CEE – Comunidade Económica Europeia (1986), que coloca o país à mercê de novas diretivas, deixando este e outros setores em agonia.
Por outro lado, a própria firma não procede ao tão premente acompanhamento do desenvolvimento da ciência e da técnica – não adquirindo novas tecnologias de fabrico e qualidade – coadjuvando no seu declínio. No ano em que esta emblemática firma encerrou portas, o jornal Fiequimetal, n.º 3, de novembro de 2008 (dedicado ao setor), desfiava o seguinte:
“Em Outubro, consumou-se a falência da Sarotos, a empresa mais emblemática da metalurgia no concelho de Braga, que tinha 62 trabalhadores e contava 108 anos de existência. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, no último ano o concelho perdeu uma dezena de empresas do sector, nas quais trabalhavam cerca de 400 pessoas. Foram os casos da Serralharia Bernardino, da Floságua e da Joaquim Fernando da Silva Monteiro. Em quase todas, como sucedeu com a Sarotos, o principal credor era o Estado (Fisco e Segurança Social), cujos representantes obedecem a instruções do Governo e preferem o encerramento à viabilização”.
A Fábrica Metalúrgica Sarotos, Lda., encerrou de forma definitiva a 09 de dezembro de 2008, portanto, há precisamente 16 anos. Todavia, seria de relevante importância reescrever a história e as estórias dessa importante firma bracarense, que por mais de uma centúria contribuiu para o desenvolvimento social e económico da região e do país.
A Sarotos, apesar de devoluta, encerra nas suas paredes memórias infindas, de trabalhadores que por ali levavam as suas vidas e das suas famílias. Lamentos, alegrias, anseios e outros estados de espírito moldaram as memórias imateriais daquele espaço – transportados de geração em geração – parecendo querer falar-nos alguma coisa, como quem pede de forma ensurdecedora amparo.
Urge que a Câmara Municipal de Braga dê atenção a este e a outros casos e, quiçá, possa até criar uma rota do património industrial da cidade, um museu da indústria, ou qualquer outra iniciativa de valor. Há tanto por explorar e valorizar.